‘Bem legal, vou viajar, não escrever porra nenhuma e comprar um iPad 2’

sexta-feira, 11 março 2011

As aspas acima foram enviadas por um whistleblower colaborador deste blog em outras ocasiões. Foram proferidas por um “especialista em tecnologia”  que escreve em um blog que leva humildemente seu próprio nome.

Ele foi um dos convidados para o trem da alegria que levou meia dúzia de blogueiros-jornalistas (gente que usa a falta de ética de um, mas posa do outro) para o Nokia Talk, evento da quase falida fabricante de celulares realizado em Miami Austin, nos Estados Unidos.

Durante encontro profissional em São Paulo, o jabazeiro afirmou, a um colega, que iria de bom grado para o evento, que ele considerava “irrelevante”, pela oportunidade de passar em uma loja e comprar a muamba de seus sonhos: um iPad 2.

Pagar os impostos de importação como todo cidadão comum? Claro que não. Jornalistas jabazeiros não precisam se submeter às mesmas regras que regem a vida de pobres mortais como eu e você.

Parabéns mais uma vez para a assessoria da Nokia por saber selecionar a dedo os jornalistas que fazem parte deste evento.

PS: Em tempo: uma colunista do site comandado por outro coonhecido nosso no blog, o Sr. Nick Ellis, também está no evento. Adivinhem se ela não comemorou publicamente, para todos seus contatos nas redes sociais, a conquista de mais um “mimo”? É apenas uma pelúcia? Claro, mas é também um sintoma.


Editor da Globo, quem diria, agora agradece aos céus e pede mais jabá

terça-feira, 1 fevereiro 2011

Instado por um comentário deixado neste blog, encontrei uma quebra do chamado Padrão Globo de Qualidade. Incrível, mas uma mesma empresa é capaz de ter em seu quadro de funcionários o sujeito que vamos mostrar aqui e o jornalista William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional.

Bonner exige que se diga no Jornal, sempre que algum repórter da Globo viajou às custas de outras empresas ou mesmo do Governo Federal, a frase: “o repórter Fulano de Tal viajou no avião da Presidência da República em parte da visita à África. O equivalente ao custo das passagens foi doado pelo Globo à Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida”, ou “depositado na co nta do Fome Zero”.

Mas nem todo mundo se comporta da mesma forma. Há os pulhas, a gentinha sem valor que enoja os poucos jornalistas que percebem a nocividade dos agrados recebidos pela categoria. E a Globo parece estar abrindo as portas para a horda que desconhece estes valores éticos.

Veja, por exemplo, o que o senhor Nick Ellis, blogueiro de relevância menor que assumiu a área de tecnologia do portal Globo.com, diz em seu Twitter pessoal.  Sobra pouco espaço para comentar sobre a vergonhosa mensagem. É um agradecimento ao jabá, e quase um pedido para que a empresa “lembre-se” dele no próximo ano, no próximo Trem da Alegria para Las Vegas.

Vergonha

Vergonha

Como acreditar na isenção das palavras de Ellis, que elogia os produtos da Lenovo em seu espaço na Globo.  “Sem dúvida alguma, este é um dos computadores All-in-One mais atraentes que vi na CES 2011”. Sem dúvida alguma, o hotel estava confortável, senhor Ellis? “A Lenovo acertou em cheio em optar pelo Android no modelo mostrado na CES 2011, que tem impressionado a todos que o experimentam”. Impressionaram também o tamanho das poltronas na classe executiva da American Airlines, às custas da Lenovo, caro blogueiro?


Roubando dinheiro de atletas paraolímpicos e da reconstrução do Haiti

quarta-feira, 26 janeiro 2011

O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CBP)está bancando estadia e viagem aérea de pelos menos quatro jornalistas de veículos como Globo, O Estado de S. Paulo e Terra para a cobertura do Mundial de Atletismo, que começou no dia 22 e vai até o dia 30 de janeiro, em Christchurch (Nova Zelândia).

O próprio comitê tem dois jornalistas enviados ao país, que fica a mais de 11 mil quilômetros do Brasil.

Uma rápida pesquisa em agências de viagens mostra que o preço unitário, com parte aérea incluída, de um pacote de sete dias para esse destino tão longínquo não sai por menos de US$ 3 mil (fora gastos com alimentação e transporte).

Dinheiro que poderia muito ser aplicado na melhoria das condições dos atletas deficientes.

O CBP, diga-se, reclama todos os anos de que faltam verbas para tocar o esporte paraolímpico no país.

Mas, para bancar jornalistas da suposta maior empresa de mídia do Brasil, do filhote da Telefonica e da empresa dos Mesquita, não é nada demais tirar alguns dólares de atletas com necessidades especiais.

Vergonha! Vergonha do senhor Anderson Giorge, da senhora Amanda Romanelli. Esses são figurinhas conhecidas, pessoas que diversos assessores de imprensa da área de esportes denunciam como gente que implora convites para viagens e eventos com boca-livre.

Pior ainda é o caso do jornalista Renato Peters, que contraria política da própria Rede Globo e não diz, no ar, que está no local a convite da CBP.

Mas esse não é o limite da falta de caráter do jornalista brasileiro. Alguns representantes da imprensa aceitaram ir, em voo da Força Aérea Brasileira, para o Haiti, país devastado por um terremoto em janeiro de 2010. Ocuparam o espaço que poderia ser usado com mantimentos para carregar estrume em formato de gente.

Os nomes estão em texto enviado pela assessoria da Prefeitura de Manaus, que também está ajudando a bancar hospedagem, transporte e alimentação dos jornalistas.  “Além dos atletas selecionados para participar da jornada, um time de jornalistas também está presente no Haiti especialmente para a missão: Regis Rosing, Marcus Vinícius e Jorge Ghiaroni (Globo), Marcel Merguizo (Folha de São Paulo), Leandro Mota (Rádio CBN), Antonio Ximenes (jornal A Crítica), João Gabriel (Globoesporte.com), Lúcio Castro e Sidney da Matta (ESPN Brasil).”

Fontes:
http://www.cpb.org.br/comunicacao/noticias/press-kit-do-mundial-de-atletismo

http://www.cpb.org.br/comunicacao

http://www.amazonasnoticias.com.br/amazonas/11445-comitiva-da-jornada-haitiana-do-esporte-pela-paz-ja-esta-em-porto-principe.html

 


Chegou a hora de voltar

quinta-feira, 13 janeiro 2011

Por um tempo, acreditem, a crise trouxe um benefício à sociedade. Em tempos de cintos apertados, as verbas de comunicação minguaram. Primeira consequência foi a diminuição do “agrada-jornalista”.

Mas, é claro, essa corja não aguenta muito tempo sem viajar às suas custas, sem curtir uma viagem à praia com um carro zero bancado pela sua dívida adquirida com a montadora, sem comer na faixa naquele restaurante da moda em troca de uma menção camarada no Twitter.

Essa corja voltou, com força. E voltamos aqui também, para atazanar.


As assessorias sabem quem são os jabazeiros

terça-feira, 2 setembro 2008

Mais uma vez as assessorias de imprensa trazem para o consumidor de notícias informações sobre seus “representantes”, aqueles que deveriam filtrar informação com isenção e relatar com objetividade.

Tem sido uma constante neste blog. Um lado do balcão, parece, se eximiu de falar.

Insisto: vale a mensagem, não o mensageiro.


O jornalismo critica o jabá dos médicos. Por que não criticar o do próprio jornalismo?

quarta-feira, 27 agosto 2008

Boa parte dos supostos jornalistas que aqui comentam* assume uma postura de transformar o jabá em um afago inconseqüente, um crime sem vítima.

Alguns acreditam na blindagem moral do jornalista e defendem que a maioria de nós trabalha para fazer boas reportagens (“isentas e verdadeiras”, grifo aqui um comentário) mesmo quando temos a coragem de viajar bancados por quem promove o produto. Como já disse, nessa situação nós, jornalistas, e as empresas de comunicação que representamos, passamos a fazer parte da folha de custos deste mesmo produto. Isenção? Verdade?

Mas isso não basta para convencer alguns. Um leitor deste blog, no entanto, dá excelentes argumentos para mostrar que esta defesa frágil que insistem fazer do hábito da mendicância tem raízes apenas no corporativismo.

Pois vejamos o que acontece quando o rótulo de “jabazeiro” cai sobre outro profissional, alguém distante da profissão dos “bardos”:

Portal Exame, “Mais marketing do que saúde”

FSP, “EUA vão proibir laboratórios de dar brindes a médicos”

Época, “Brindes encarecem os remédios”

FSP, “Médicos denunciam favores de laboratórios”

Leiam. Para descrever a situação do “jabá” na medicina, jornalistas como nós utilizam, corretamente, termos como “promiscuidade”, “conflito de interesse”, “vantagens especiais”, “do ponto de vista ético, deplorável”. Os laboratórios não são poupados de críticas. Nem os médicos.

Começa a parecer mais claro, não?

* Principalmente a primeiríssima leva, a horda que chegou para ironizar o propósito deste blog, mas que lentamente foi suplantada por aqueles que realmente se interessam pela discussão.


Exemplo bem-acabado

segunda-feira, 25 agosto 2008

Ele se apresenta como jornalista e confessa: adora uma “lembrancinha” típica de entrevistas coletivas (chega a resenhá-las e fotografá-las, quase atingindo o requinte de lhes dar nota).

Mas, nos últimos dias, e instado por um comentário neste blog, passou a fazer crítica do trabalho das assessorias de imprensa (ele já vinha postando, com alguma regularidade, releases que considera “sem noção“).

Também freqüentou a caixa de comentários deste espaço.

Ele é o Fui na Coletiva.

Algo a comentar?


Ganhe um passeio e escreva uma matéria

sexta-feira, 22 agosto 2008

Aos sanguessugas que se recusam a compreender que o maior patrimônio do jornalista é sua credibilidade, esfrego essa peça de sem-vergonhice na cara.

Aos consumidores de notícia, um alerta: veja como funciona o “agenda setting”, ou seja, a imposição de reportagens sem gancho, sentido ou utilidade nos veículos que você lê, assiste ou ouve em troca de reles passeios de jornalistas a bordo de carrões.

No nosso espisódio de hoje, a Flexpedition Chevrolet.

Montadora leva jornalistas para passear em troca de matérias

Montadora leva jornalistas para passear em troca de matérias

Como você bem pôde ler acima, num destaque do site oficial do “projeto”, o patrocinador garante “destacar, em reportagens (TV’s, rádios, Internet, jornais e revistas) e em eventos, O Que o Brasil Tem de Melhor, em turismo, esportes e cultura (indicado pelos jornalistas de cada região) e visto pelos jornalistas locais. Eles serão partícipes da jornada e eles próprios ficarão encarregados de contar essa história, em total interatividade com a Expedição.”

Ou seja: bancados por uma montadora, eles trabalharão para ela usando, para isso, as empresas jornalísticas que têm coragem de os abrigar.

Trecho do “projeto” revela claramente seu objetivo: “Em cada etapa da viagem, de aproximadamente uma semana em cada região do País, a Flexpedition Chevrolet levará jornalistas especializados em veículos, turismo, esporte ou aqueles de relacionamento com os patrocinadores, para conhecerem mais sobre seu próprio Estado.”

Mais: “Cada veículo da expedição levará dois ou três jornalistas em roteiros pré-estabelecidos, terminando com uma grande festa com convidados de interesse regional das empresas patrocinadoras, como concessionários, autoridades, etc (sic). Promover um “acontecimento local” nas largadas e chegadas, provocando conseqüentemente retorno de mídia.”

Precisa falar mais alguma coisa? Deixo a caixa de comentários aí abaixo falar (seja por quem exige decência, seja por quem mama em virtude falta dela).


O custo de um carro inclui verba para puxar saco de jornalista

quarta-feira, 20 agosto 2008

Amigo leitor, você sabia que, quando um novo modelo de um automóvel é lançado, é comum que as montadoras paguem dias de descanso para jornalistas em hotéis de luxo pelo mundo?

Você sabia que todo fim de ano, empresas como Ford, Volkswagen, Fiat e GM têm o hábito de realizar festas com a presença de jornalistas? E que não é incomum que, nessas festas, aconteçam sorteios de carros, televisores e CD players? Tudo só para o “pétit comitée” da imprensa.

Você sabia que nem todas as empresas jornalísticas obrigam o profissional a devolver estes brindes? E você sabia que, embora isso não necessariamente influencie no teor da reportagem produzida, eventualmente há repórteres que fazem questão de fazer uma cobertura só por causa dos presentinhos?

Tudo isso (viagens, carros, televisores, etc) é pago pela montadora de automóveis, que classifica este tipo de ação como “despesa de marketing”, ou “custo de comunicação”, ou, ainda mais escancarado, “verba de propaganda”.

Essa “despesa”, “verba” ou “custo” não cai do céu. Para gastar dinheiro, a montadora precisa ganhar dinheiro. E é assim que o jabá do jornalista vai parar o custo final do automóvel. No final é você, leitor, quem paga a festinha deles. Essas ações podem ter uma participação pequena no custo final do carro, mas elas estarão lá.

Quando encontrar um jornalista na rua, sinta-se à vontade para tratá-lo da mesma forma que você trataria um político. E não se preocupe, jornalista honesto é igual político honesto. Ambos se envergonham pela sujeira que seus pares deixam por aí.


Mau comportamento de coleguinhas já cria ‘protótipos’ de jabazeiros no berço

terça-feira, 12 agosto 2008

Parabéns, vocês conseguiram. Ao comemorar abertamente algo que deveria ser motivo de vergonha, os jornalistas que adoram ganhar “mimos” das assessorias de imprensa conseguem estimular coleguinhas a saírem da universidade já com a ética manchada. Pior: de novo, a galerinha da tecnologia. Hienas que disputam iPods e telefoninhos da moda, coisa banal, que qualquer jornalista poderia comprar. Mas de graça é mais gostoso, parece.

Nojo. Começou bem na profissão, garoto.