Ganhe um passeio e escreva uma matéria

sexta-feira, 22 agosto 2008

Aos sanguessugas que se recusam a compreender que o maior patrimônio do jornalista é sua credibilidade, esfrego essa peça de sem-vergonhice na cara.

Aos consumidores de notícia, um alerta: veja como funciona o “agenda setting”, ou seja, a imposição de reportagens sem gancho, sentido ou utilidade nos veículos que você lê, assiste ou ouve em troca de reles passeios de jornalistas a bordo de carrões.

No nosso espisódio de hoje, a Flexpedition Chevrolet.

Montadora leva jornalistas para passear em troca de matérias

Montadora leva jornalistas para passear em troca de matérias

Como você bem pôde ler acima, num destaque do site oficial do “projeto”, o patrocinador garante “destacar, em reportagens (TV’s, rádios, Internet, jornais e revistas) e em eventos, O Que o Brasil Tem de Melhor, em turismo, esportes e cultura (indicado pelos jornalistas de cada região) e visto pelos jornalistas locais. Eles serão partícipes da jornada e eles próprios ficarão encarregados de contar essa história, em total interatividade com a Expedição.”

Ou seja: bancados por uma montadora, eles trabalharão para ela usando, para isso, as empresas jornalísticas que têm coragem de os abrigar.

Trecho do “projeto” revela claramente seu objetivo: “Em cada etapa da viagem, de aproximadamente uma semana em cada região do País, a Flexpedition Chevrolet levará jornalistas especializados em veículos, turismo, esporte ou aqueles de relacionamento com os patrocinadores, para conhecerem mais sobre seu próprio Estado.”

Mais: “Cada veículo da expedição levará dois ou três jornalistas em roteiros pré-estabelecidos, terminando com uma grande festa com convidados de interesse regional das empresas patrocinadoras, como concessionários, autoridades, etc (sic). Promover um “acontecimento local” nas largadas e chegadas, provocando conseqüentemente retorno de mídia.”

Precisa falar mais alguma coisa? Deixo a caixa de comentários aí abaixo falar (seja por quem exige decência, seja por quem mama em virtude falta dela).


O custo de um carro inclui verba para puxar saco de jornalista

quarta-feira, 20 agosto 2008

Amigo leitor, você sabia que, quando um novo modelo de um automóvel é lançado, é comum que as montadoras paguem dias de descanso para jornalistas em hotéis de luxo pelo mundo?

Você sabia que todo fim de ano, empresas como Ford, Volkswagen, Fiat e GM têm o hábito de realizar festas com a presença de jornalistas? E que não é incomum que, nessas festas, aconteçam sorteios de carros, televisores e CD players? Tudo só para o “pétit comitée” da imprensa.

Você sabia que nem todas as empresas jornalísticas obrigam o profissional a devolver estes brindes? E você sabia que, embora isso não necessariamente influencie no teor da reportagem produzida, eventualmente há repórteres que fazem questão de fazer uma cobertura só por causa dos presentinhos?

Tudo isso (viagens, carros, televisores, etc) é pago pela montadora de automóveis, que classifica este tipo de ação como “despesa de marketing”, ou “custo de comunicação”, ou, ainda mais escancarado, “verba de propaganda”.

Essa “despesa”, “verba” ou “custo” não cai do céu. Para gastar dinheiro, a montadora precisa ganhar dinheiro. E é assim que o jabá do jornalista vai parar o custo final do automóvel. No final é você, leitor, quem paga a festinha deles. Essas ações podem ter uma participação pequena no custo final do carro, mas elas estarão lá.

Quando encontrar um jornalista na rua, sinta-se à vontade para tratá-lo da mesma forma que você trataria um político. E não se preocupe, jornalista honesto é igual político honesto. Ambos se envergonham pela sujeira que seus pares deixam por aí.